terça-feira, 23 de março de 2010

e vai mais um


Numa altura em que lançam o número especulativo de 10,5%, relativo ao desemprego, já que o valor real será bastante superior, basta pensar nas manobras de diversão feitas a partir de projectos como as novas oportunidades para perceber que, na verdade, o desemprego será superior ao mencionado; encontramos um caso de sucesso neste estado calamitoso de coisas, alguém que mostra como se pode conseguir um emprego fazendo simplesmente o que lhe mandam.

Parece que o ex-ministro Mário Lino está a ser estudado pela Cimpor para ser o seu novo chairman (alguém me explica o que é ser estudado? Será que o submetem a exames da quarta classe para ver se o indivíduo sabe um pouco de demografia?).
Ao que parece às pastas ministeriais sucedem grandes louvores em empresas de renome, isto só me leva a crer, não na capacidade dos visados (há exemplos de uma enormidade falta de qualidades), mas que estes ministros já trabalhavam nessas, ou para essas, mesmíssimas empresas nos tempos idos de governo. E, como aliás venho insistindo, nesta ideia dos funcionários políticos, da promiscuidade que se criou, na submissão do poder político ao poder económico, nada mais natural do que olhar para este filho da pátria injusta, este nobre e visionário Mário Lino, que ainda era ministro mas já tão bem ministrava os desígnios da Cimpor, e pensar: "Que bom, menos um português no desemprego, rogo a todos os santos não o ter visto, por aí, perdido aos caixotes".

Faço ainda uma pequena referência às novas oportunidades citadas. Só num país em que uma paupérrima educação é permitida seria possível administrar um projecto como o das novas oportunidades sem contestação social, porque é do senso de todos, dos que leccionam, dos que recebem instrução, de que não se aprende nada nesses cursos, de que apenas se passa o tempo esperando a certificação. E é isto, trocou-se o conhecimento, o valor insubstituível de saber que não se sabe, pelo atestado de acefalia em estado avançado.
Agora, no que tem de ser apontado ao governo em primeiro lugar é que repercussões terá este ensino na generalidade da educação? Pois isto não é um acto novo no serviço educativo, desde há vários anos que a qualidade baixa a ritmo galopante, tanto que hoje se faz uma carreira inteira com ensino superior incluído, sem um mínimo de exigência, já não falo de ética. A qualidade e exigência no ensino superior rivalizam com algumas dessas publicações que se vendem em quiosques, pequenos livrinhos que trazem palavras cruzadas, sopas de letras e, mais recentemente, sudoku.
No outro dia ouvi um dos candidatos a presidente do PSD dizer que as crianças aos 12 anos podem aprender uma profissão, é este o sinuoso caminho que nos querem destinar.
Já que nem todos podem ter as oportunidades (nem os amigos) de Mário Lino, talvez fosse hora de exigir uma educação virada para as capacidades humanas, para a libertação da individualidade; uma educação que não esteja ao serviço dos empresários mas ao dispor das legitimas reivindicações da vontade dos Homens.
Fica o registo de Agostinho da Silva, sobre o que, para si é, educar e instruir.
"Não se trata de profissão, trata-se de arte, trata-se de criação. O Homem não nasce para trabalhar, o Homem nasce para criar, para ser o tal poeta à solta."

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